Episódio 4

E o Setembro chegou, quase como se fosse primavera e não outono. Era uma sensação estranha. Como um presságio de qualquer coisa indefenida. Mal percebia o que estaria para acontecer. Aliás estava muito longe de saber o que iria acontecer e como a minha vida iria dar uma volta terrivel, assoladoramente terrivel de cento e oitenta graus.
Como passaria dos cem aos zero. Aos zeros absolutos sem tirar nem por. Como se iria em dois breves anos instalar a estagnação por um lado e um turbilhão de emoções por outro. Como se Fausto de Goethe encarnasse em mim ou eu em Fausto.
Mas o que então eu não sabia, era que estaria alguém para mergulhar no meu pequeno mundo.
O cabelo longo, mais longo do que é habitual, castanho, liso com ligeiras ondas como um lago calmo. Estatura média alta. Um ar brincalhão e sério quase desconcertante. Um brilho que batia no olhar. Pelo menos no meu olhar. Num certo dia, num determinado anfiteatro, onde eu aguardava o começo de mais uma aula, apenas para voltar a ver Isabel. E Isabel entrou subindo as escadas apressadamente. Soltando um click que libertou em mim a paixão à muito perdida. Fazendo o coração bater mais depressa. Como já há muito não fazia. Que brilho esse, que me mergulhou no turbilhão das emoções.
Eu fazia tudo para que os caminhos se cruzassem, nos intervalos das aulas, no caminho para a faculdade, no atravessar da rua, em todo o lado onde estivesse ou eu adivinhasse que Isabel estava.
Mas só os olhares se iam cruzando. Aqui e ali. Assim como quem não que a coisa. Um ou outro sorriso arrancados quase a ferro e fogo.

Episódio 3

Tudo isto parece ainda estranho mas está a resultar. A criminalidade praticamente desapareceu. Porque todos têm direito ao que necessitam.
As pessoas parecem mais felizes. A época negra tinha passado. E podem crer que foram uns anos terriveis estes últimos quatro.
Conto-vos a minha experiência pessoal. Mas como eu havia milhares ou mesmo milhões.
A minha saga tinha começado em 2005, quando resolvi voltar a estudar e frequentar o ensino superior.
Tinha feitos os exames nacionais com uma boa média. Mas mesmo assim optei pelo ensino privado. Pois só aí havia o curso que realmente pretendia frequentar. Era um risco muito grande, as propinas era elevadas e a remuneração mensal baixa. Ainda havia a pretação do carro. Tinha de ponderar todos os pós e contras de ir estudar para o ensino privado.
Mas todos, os amigos, os colegas e a familia incitavam a ir em frente, porque seria um bom investimento. Hoje sei que foi, mas durante anos, sufocantes anos os que se seguiram quase cheguei a não acreditar.
Iniciei então os meus estudos em Psicologia. Era uma licenciatura importante para mim. Era para esse tipo de conhecimento, que a minha predisposição tendia. Quase lhe chamaria vocação, não fosse a velha paixão que tinha pela biologia.
Mas até o ensino superior iria mudar e no meu segundo ano do curso entrariamos no processo de bolonha. Se o primeiro ano tinha sido um pouco dificil, o segundo avizinhava-se como quase insuportável. Quase à beira de desistir, prossegui, mesmo quando esta luta parecia quase perdida. Quase gasta, levando à exastão. Eu sentia essa exastão no próprio ar que respirava. Tudo me cansava. O curso o emprego, a casa, os colegas e o meu exausto eu.
Chegaram as férias finalmente. Tinha sido um ano para esquecer. De tal forma, que passei as férias em casa. Apenas e quase comendo e dormindo. Tentando recuperar o cansaço. Quando o novo ano lectivo chegasse iria iniciar tudo com mais força. Com verdadeira vontade de ganhar essa luta.

Episódio 2

Hoje o sistema politico também sucumbiu a ele próprio. O capitalismo já não era solução. Aliás tinhamos chegado à estagnação.
O negócio imobiliário deixou de existir. Os construtores não conseguiam vender os seus imóveis. A banca não emprestava dinheiro a quase ninguém. Assim a banca sofucou na sua própria ganância. O desemprego aumentava e o crédito mal parado atingia limites nunca vistos. Não se via solução há vista.
A população mundial estava cansada e desiludida. Parecia que não restava mais nada a fazer a não ser a resignação.
Mas surgiu um grupo de cidadãos dispostos a mudar. Não eram politicos. Não eram economistas nem juristas. Eram aparentemente cidadãos comuns. Chamamos-lhes os idealistas. Não sabemos bem de onde surgiram nem como se conseguiram unir em torno do caos. Eram certamente cidadãos desesperados com o estado a que tinhamos chegado. Foi assim que tudo mudou.
Hoje trabalhamos quase todos e por incrivel que pareça todos fazem aquilo que gostam. No entanto, não se recebem salários. Isso não é necessário. Existe uma espécie de permuta. Se precisamos de comer vamos ao supermercado e trazemos o que necessitamos. Se queremos uma casa escolhemos uma e ela é nossa. Se precisamos de trocar o carro velho, recebemos um aviso apenas para o entregar para reciclagem e irmos buscar um novo.

Episódio 1

Estamos no ano de 2013. É Inverno. Pelo calendário antigo, que durante tantos anos nos guiou o tempo, estariamos provavelmente em Dezembro. Mas os tempos mudaram. Hoje seguimos outro calendário. Aliás, não foram apenas os tempos que mudaram. Todo o mundo, tal como o conheciamos há quatro anos, mudou. Parece que finalmente mudou para melhor. Mas ainda é muito cedo para essa afirmação.
O mundo é outro. Os filmes de ficção do ano de 2009, falavam-nos de um fim do mundo cheio de catrastofes, guerras e outras calamidades. Mas realmente o que aconteceu há um ano atrás, não foi bem uma catrástofe natural.
Parece incrivel, mas o que acabou foi um pedaço de papel que durante séculos nos dominou. Comandou quase na integra as nossas vidas que giravam em seu torno numa orbita impiedosa.
Mas tudo tem um fim. Assim o dinheiro, esse misterioso e impiedoso papel, teve o seu fim.
Foram tempos muito confusos e dificeis. Como se tivessemos de aprender tudo de novo. Alguns nunca se adaptaram. Outros sucumbiram a eles próprios.
Houve muitos meses de repletas pilhagens às grandes e pequenas superficies comerciais. Os cidadãos ainda não conseguiam entender que nada disso era desnecessário, pois os bens existentes chegavam para todos e eram distribuidos de forma que ninguém necessitaria mais do que o suficiente para ter uma vida digna.
Mas a verdade é que ainda poucos se habituaram a viver sem o dinheiro e principalmente o de plástico. O cartão mágico que levou muitos à ruptura total.
O meu caso não foi excepção. Mas disso falarei mais tarde.

Levanta a cabeça PORRA!!!

Quando iniciei este blog, não imaginava que ele, ou o seu titulo ir-se-iam tormar muito mais reais do que aquilo que eu desejaria. Não falo agora das depressões ou desagrados do dia a dia que nos desgastam. Não falo de contrariedades. Falo do mais profundo caos. Falo de um mar de "coincidências" completamente surreais. Falo como se tivesse mergulhado num qualquer portal, que me levou a outra dimensão. Mas o que mais me custa é que nem falar de tudo isso eu posso. Mas, de cabeça erguida, irei contar-vos brevemente uma estória ( a minha) que pode ser a de muita gente que por aí anda nas ruas aflitas.

Zeca Afonso - Milho Verde

Eurovision 1974 - Portugal

25 de Abril sempre!