porto covo


Era porto
covo
corvo
curvo.
era porto.
de mar
amar
amora
demora a moura
pessegueiro
matreiro

Nem a tempestade vinha
teve de ser pintada.
na maré

No turbilhão erosão
tudo ilusão
Porto
curvo
curvo-me
apenas


não era breve a paixão nem o lume

que encendeia as montanhas e as emprenha

e se parir um rato a montanha no cume

deixa fogueira acessa que dos braços se fez lenha


fez fogo de passáros agitados na asa

e nós na paixão em sangue que flutua

no ruido sem dó nem ré que ultrapassa

quando deres por isso a minha mão é tua


e toca-lhe devagar que não se parta

toca-lhe com amor com o teu calor

para que amanhã te escreva uma carta


daquelas que poetas chamam de amor

e mesmo que me faça ficar farta

escreverei até impensável limite da dor


desembrulhas-me os nós

dos dedos

em nós

que vais tocando

que vou sentindo

embrulho-me

em ti

já não está frio

levar-te-ei além

tejo


Lá anda o beco

de contornos labirinticos

da velha Lisboa

parecem fluorescente

as gaivotas

nocturnas

sigo-as com olhar distante

espero-te ao longe

e tu sabes

sabes que vou

parece-me que também

contas as horas

conta-me histórias

das que tu sabes

deixa-me descansar

em ti

como sou, como me vêm, como me sinto?


E depois de todos os esclarecimentos, chegou o já esperado Não. Sem evasivas, com lamentos à mistura, mas a vida é mesmo assim. Nada se passou que eu não esperasse. Agora, só, mais uma vez, resolvo esqueçer tudo. Ainda podia tentar, mas o impossível foi tão bem expresso, que posso continuar e finalizar a breve história.

Ontem disseram-me que os meus diálogos começam a ser evasivos. Tal é a primeira vez que acontece. Ao longo da minha vida quer pessoal quer profissional, tenho sido sempre bastante pragmática ( por vezes até demais). Pedem-me que explique o óbvio. Também eu o queria fazer. Mas num blog é dificil. Lá vem a metáfora, a hiperbole, etc. Depois por vezes nem a mensagem chega ao destinatário, nem o autor consegue ir mais longe. Quando se fala de sentimentos, tudo parece absurdo.
Dizem-me, não me conheçe? Como pode sentir o que quer que seja?
Então nem valerá a pena dizer mais. Pois do outro lado também mal me conheçem. E o interesse em conheçer melhor, talvez seja apenas meu. Então que faço?
Deixo passar mais uma vez.







Já passaram muitos anos.
Mudei muito. Quase pergunto se sou a mesma. Divertida, cheia de qualidades e birras. Aplicada em tudo o que fazia. Mas era apenas criança. Hoje o tempo passou mais depressa. De mim só ficou as fotos antigas com os avós. As gracinhas da primogénita. Mais nada. Todos os sonhos, perdi-os. Felizmente pesadelos nunca os tive. Excepto no dia da morte da minha avó. Soube que nunca mais teria ninguém. Claro que tenho a minha restante familia. Mas nunca mais foi o mesmo. Desde aí sempre fui muito mais só. Agora já não adianta pensar nisso.
Resta-me a certeza de ser apenas só.